Em 1967, num Portugal ainda sufocado pelo regime autoritário de Salazar, uma voz jovem e ativa foi silenciada atrás das grades. Hoje, décadas após a Revolução dos Cravos, essa mesma voz retoma a narrativa, partilhando não só a sua história de resistência, mas também uma reflexão crítica sobre a memória e o legado político do país.
“Então eu fui presa em 1967, já tinha, nessa altura, tido duas pequenas detenções sem grande importância, uma das quais na crise académica de ’62,” começa a relatar a nossa entrevistada, cuja vida foi marcada por uma ativa participação no movimento estudantil e na oposição ao regime. Durante a entrevista, evidencia-se uma vida de luta, desde a sua militância na campanha de Humberto Delgado em 1958 até ao envolvimento com estruturas clandestinas do Partido Comunista, que a levaram por fim ao exílio e, inevitavelmente, à prisão.
A prisão representou um ponto de viragem. “A prisão ajudou-me a ganhar consciência política. Até porque eu tinha todo o tempo para refletir na cadeia. Durante seis meses, estive em isolamento total: sem livros, sem jornais, sem papel, sem caneta,” descreve ela, delineando um quadro de privações extremas que, paradoxalmente, fortaleceram seu espírito e sua determinação.
Através do relato, torna-se evidente o uso estratégico da tortura psicológica pela PIDE, substituindo as violências físicas mais brutais que marcaram as décadas anteriores. A nossa entrevistada detalha as técnicas de isolamento e privação sensorial que visavam quebrar a resistência dos presos políticos sem deixar marcas físicas evidentes, uma mudança tática que refletia uma nova fase na repressão estatal.
Após a sua libertação, a luta não terminou. Ela retomou suas atividades, contribuindo para a fundação de movimentos de mulheres e de socorro aos presos políticos. A sua história, embora marcada por períodos de intensa adversidade, é também uma narrativa de resistência, resiliência e, acima de tudo, de um compromisso inabalável com a justiça e a liberdade.
“Eu nasci numa família de democratas republicanos, firmemente antissalazaristas,” ela reflete, evidenciando como o contexto familiar e político moldou sua trajetória. A entrevista conclui com uma nota sobre a importância da memória histórica: “Acho que devemos passar às gerações mais novas a memória do que foi o regime de ditadura no qual vivemos. É importantíssimo, porque pelo menos estão atentos.”
Esta história não é apenas um testemunho do passado; é um chamado à vigilância e ao compromisso com os valores democráticos, lembrando-nos que a liberdade, sempre frágil, deve ser zelosamente guardada.
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