Nas últimas décadas, o cenário político global tem sido marcado por uma onda crescente de ultranacionalismo e de movimentos de extrema direita. Um dos exemplos mais alarmantes dessa tendência é a Hungria sob a liderança de Viktor Orbán. Ao longo de quatro mandatos consecutivos, Orbán, um líder nacionalista e ultra-radical, promoveu uma série de políticas e retóricas que atentam contra os fundamentos da democracia liberal, visando a reafirmação de um Estado baseado na pureza étnica e no isolacionismo.
Orbán tem conduzido a Hungria por uma via autoritária, atacando imigrantes, a comunidade LGBTQIA+, entidades de direitos humanos e o sistema judiciário, com o objetivo de moldar o país à sua visão de uma “democracia iliberal”. Recentemente, galgou mais uma etapa nesse percurso ao defender abertamente a pureza étnica para o futuro da nação, idealizando “uma raça húngara sem misturas”. No seu discurso, afirmou que “não somos mestiços e não queremos tornar-nos mestiços”, sugerindo que países onde europeus e não europeus se misturam “não são mais nações”.
Essas declarações não só são perigosas pele sua natureza discriminatória e xenofóbica, mas também por repercutir teorias conspiratórias de supremacia branca, como a da “grande substituição”, que alega existir um plano para extinguir as populações brancas do Ocidente através da imigração. Tais retóricas apocalípticas contra a mistura de raças representam um perigo iminente não apenas para a democracia na Hungria, mas também para a estabilidade e a paz globais.
O recente apoio de Viktor Orbán a André Ventura e ao partido Chega em Portugal é um indicador preocupante da expansão dessas ideologias ultranacionalistas e de extrema direita para além das fronteiras húngaras. Esse endosso não apenas legitima as visões e políticas controversas de Ventura, mas também sinaliza um esforço concertado para unificar movimentos de extrema direita numa frente comum contra a pluralidade democrática e a inclusão social.
A situação política na Hungria revela um cenário onde, apesar das eleições ainda serem livres, o jogo é desequilibrado. O partido governamental, Fidesz de Orbán, domina a comunicação social e utiliza recursos de campanha de forma desproporcional, criando um ambiente hostil para as forças da oposição. A aliança Unidos pela Hungria, apesar de seus esforços, falhou ao apresentar uma alternativa credível que pudesse atrair eleitores além das bolhas liberais de Budapeste, refletindo o abandono dos valores da classe trabalhadora e uma hesitação em abordar temas delicados como a guerra e a imigração.
É imperativo reconhecer e combater a disseminação de ideologias ultranacionalistas e de extrema direita que buscam dividir sociedades, promovendo a discriminação e ameaçando os pilares da democracia. A luta contra essa onda de autoritarismo exige uma resposta coletiva, baseada na solidariedade, no respeito da diversidade e na defesa intransigente dos direitos humanos e da democracia.
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