A paisagem polÃtica portuguesa, como em muitos outros lugares do planeta, não está imune à s ondas de transformação e à s tendências que atravessam as sociedades contemporâneas. Nos últimos anos, tem-se observado um fenómeno particular: a metamorfose do extremismo de direita, que, perdendo força nas manifestações tradicionais de rua, encontrou no ambiente virtual um novo palco para disseminar suas ideias.
As organizações tradicionais de extrema-direita em Portugal assistem a um declÃnio em termos de influência e dinamismo, sobretudo no que concerne à militância de rua. No entanto, um novo fenómeno surge: a migração de suas atividades para o ambiente online. A pandemia de COVID-19 pode ter acelerado este processo, mas a verdade é que o movimento já estava em curso. O ciberespaço revelou-se um aliado poderoso para estes grupos, proporcionando uma audiência crescente e uma plataforma onde mensagens podem ser rapidamente disseminadas sem as limitações fÃsicas e regulatórias das ações públicas.
Este movimento digital não é apenas uma mudança de “media”, mas também de demografia. Os relatórios de segurança interna apontam para uma crescente adesão de jovens militantes à causa da extrema-direita, participando ativamente em grupos online de âmbito nacional e transnacional. Esses jovens dedicam-se à difusão de conteúdos que vão desde propaganda extremista a teorias de conspiração e desinformação, muitas vezes sob o disfarce de um ataque “legÃtimo” à s instituições democráticas e minorias.
A radicalização online é uma preocupação crescente para os órgãos de segurança. A transição para o digital facilita a criação de “células” ou de atores isolados dispostos a agir com violência, motivados por uma ideologia que encontram e cultivam nas sombras da internet. O perigo aqui é duplo: por um lado, o anonimato e a vastidão da rede facilitam a propagação de ideias extremistas; por outro, a desmaterialização do ativismo torna mais difÃcil para as autoridades monitorar e prevenir ações potencialmente violentas.
Portugal, na sua luta contra o extremismo, enfrenta o desafio de adaptar as suas estratégias de segurança e prevenção a um mundo cada vez mais digital. A vigilância deve ser acompanhada por um esforço de educação e diálogo, visando desmantelar a atração pelo extremismo, especialmente entre os jovens. A resposta passa, inevitavelmente, por um investimento na literacia digital e numa consciência crÃtica que possa resistir à onda de desinformação e ideologias extremistas que encontram no online um terreno fértil. O futuro de Portugal no combate ao extremismo pode muito bem depender da sua capacidade de navegar nesta nova realidade digital, mantendo ao mesmo tempo os princÃpios de democracia, liberdade e respeito pela diversidade que caracterizam a nação.
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