As dores de crescimento de um jovem numa extrema direita em crescimento

Por Ruben Mateus

A ascenção da extrema-direita não tem segredos e a vaga que hoje vivemos é prova disso mesmo. O que muda é o acesso à tecnologia, com os fundamentos e táticas utilizadas a não diferirem em nada dos tempos das imagens a preto e branco. A história conta-nos tudo o que estamos a viver hoje, mas apesar dos milhares de documentos, livros, relatos dessas épocas, parece inevitável tudo repetir-se mais uma vez. É algo que diz mais sobre a democracia do que propriamente a extrema-direita.

Sejamos francos: a extrema-direita aproveita o flanco que lhe é dado. Os seus seguidores fiéis sempre existiram, mas o crescimento eleitoral resulta da caça e pesca de uma população que não é propriamente racista ou xenófoba. A democracia, usando linguagem futebolística, falhou na tática e permitiu que o tal flanco ficasse aberto e permeável à entrada dos atacantes fascista. Os milhares de documentos, de livros, de relatos também nos dizem que parte da população (por vezes uma grande parte) cai sem pensar nos braços da extrema-direita quando sente que a democracia lhe deixou de responder aos seus anseios.

Aquilo que se pensou é que a democracia viveria por si só depois dos horrores de duas guerras mundiais e do fim dos regimes ditatoriais que prenderam ao provincianismo países como Portugal. O que se descurou é que a memória se vai e aqueles que nascem e crescem sabem lá o que foram esses tempos. Não é à toa que a extrema-direita, por cá, ganha eleitoralmente entre a população mais jovem.

Mais do que ninguém, são eles que sentem o desalento da falta de respostas para o presente e para o futuro. Os salários são miseráveis, a habitação inacessível, a possibilidade de planear uma família trata-se de uma miragem no deserto, a promessa de que a geração seguinte iria viver melhor que os pais foi quebrada (são os pais e outros familiares a sustentar os jovens…caso contrário o cenário de gente a viver na rua seria ainda mais desolador).

É normal que se sinta raiva, desalento, a sensação de que alguma forma a democracia traiu as promessas de futuro que foram feitas. A não existência de uma memória do pasado a somar à falta de independência a que a realidade obriga, leva a que os jovens corram de braços abertos para os cantos de sereia da extrema-direita. E a eles não vale a pena dizer o quão mau o ideal fascista e racista é. Há saturação do regime atual a quem é atribuída a culpa dos sonhos e da vida adiada. A democracia defende-se a extrema-direita aniquila-se com respostas.

Se a democracia não aprende isso e não começa a mostrar que pode existir um futuro diferente… pode acabar por morrer por culpa própria. Nenhum regime subsiste apenas por afirmar que é melhor do que os outros. É preciso que o prove e o provar, agora, é mostrar que a vida não tem de ser nada disto e que ainda vamos a tempo de colar os cacos das promessas que se partiram.

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