Por Rúben Mateus
Tolos (com todo o respeito) daqueles que acreditavam que Portugal ficaria imune ao fenómeno da nova ascenção das ideias fascistas. Por muitas características particulares que o nosso país tenha, a verdade é que é por aqui que o ideal do fascismo, do canto da sereia do homem providencial mais pernas tem para andar. Aliás, muito tem andado como o provam os anos recentes.
Em Portugal faltam as respostas para uma população que não compreende porque é que tem de ser pobre (em comparação com os seus parceiros europeus). A somar a isto temos uma carga fiscal elevadíssima que atinge a pouca classe média que ainda existe e da qual se conseguem extrair poucos benefícios (o SNS está em rutura, a educação vive sem professores, os apoios sociais são míseros quando necessários).
O salário líquido é assim baixo e o pouco que se recebe acaba por ser transferido para os ganhos do capital (os lucros substanciais dos bancos, petrolíferas, cadeias de supermercados provam isso mesmo), o que faz crescer o sentimento de injustiça perante um sistema que nos mostra que os vencedores são os privilegiados de sempre. Seria impossível a vaga de força da extrema-direita e do fascismo não passar por aqui. As sementes para o seu florescimento estavam prontas a ser semeadas e assim aconteceu.
Os resultados do Chega nestas eleições legislativas vão ser o sinal de que esta onda (a poucos metros de ser gigante) poderá não ficar por aqui. Sabemos como ela se formou, sabemos como ela chegou e também sabemos como ela pode rebentar e transformar-se apenas em espuma. É preciso querer que esta onda entre na zona de rebentação e esse querer tem de ser demonstrado ao entregar à população as respostas para os seus anseios. As respostas não têm de ser fáceis, mas precisam de dar uma perspectiva de futuro às atuais gerações e às que estão por chegar à vida adulta.
Como se garante que a habitação é mesmo um direito constitucional, o acesso a uma saúde e educação pública de qualidade, salários dignos que permitam viver uma vida plena em todas as suas dimensões, impostos que sejam justos e canalizados efetivamente para a redistribuição de riqueza (o dinheiro é da pessoa, não do Estado)? É por aqui que esta nova vaga de fascismo poderá perder a sua força. Não basta apenas alertar para os perigos (que existem e são muitos). É preciso dar algo mais, muito mais para que as pessoas voltem a estar de braço com a democracia.
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